Uma conversa para quem é viciada em relacionamentos
Sobre como viver a vida de solteira
Quero começar o texto de hoje dizendo que eu tenho lugar de fala: se eu contar os 4 namoricos de 3 meses que tive durante a adolescência, com os 2 namorados de 5 anos cada que tive entre os 20 e 30 anos, além dos 2 mais recentes entre os 30 e 35, já tive 8 namoros.
Embora oficialmente eu tenha decidido que esse número total de namoros é de apenas de 4 namoros (porque, aos 35 anos, aqueles primeiros namoricos me parece um grande surto e, como dona da minha própria história, eu decido o que será narrado ou não sobre mim), acho que posso dizer que tenho propriedade para propor a conversa sobre relacionamentos x solteirice no post de hoje.
Dito isso, vamos ao tópico dessa nossa conversa com hoje.
Queria falar especificamente com as mulheres que emendam relacionamentos. Acho que o mundo inteiro fica por aí pregoando “fique sozinha”, “aprenda a ser sua propria companhia”, mas ninguém fala para pessoas que não sabem nem como começar a fazer isso como é que a coisa toda acontece.
Resultado?
A gente fica igual barata tonta, se sentindo uma grande merda de ser humano porque só faz pensar em macho x solidão, se sentindo incapaz de ser feminista o suficiente para saber fazer esse negócio de ficar sozinha. “Deve ter algo de errado comigo” é que a gente pensa nessas horas e isso só aumenta nossa chance de entrar mais uma vez em mais um relacionamento merda e mais uma vez se sentir ainda pior quando tudo acabar.
Migs, eu te entendo. Como disse, tenho lugar de fala e como uma ex-viciada em relacionamentos, vim aqui te dar um abraço e propor um guia de como olhar com novos olhos para a solteirice. Vamos lá:
Primeira Dica:
Pare de pensar que tem gente em relacionamento merda para justificar que você decidiu (ou foi decidida a) ficar solteira.
Eu, muito sinceramente, não vejo sentido em julgar a (in)felicidade alheia como forma de construir nossa felicidade. Eu tenho uma conhecida, por exemplo, que está há anos num casamento que, de fora, me parece a coisa mais desajustada do mundo. Mas quem sou eu para dizer que aquilo que me parece desajuste não é algo que preenche as partes envolvidas?
No final das contas, ficar apontando o dedo para a relação alheia é só uma forma torta de ficar amargurada. Não acho útil em nenhuma medida.
Segunda dica:
Você vai ter dias ruins, não precisa ficar dando show por isso. Muito sinceramente, dias ruins não são nem exclusividade das solteiras, seja sobre estar em um relacionamento ou não. Todo mundo tem dias difíceis - solteiros, casados, empregados, desempregados, donos de empresa, aposentados.
Meu conselho aqui é: atravesse. Chore quando tiver que chorar, sonhe com relacionamento perfeito da Disney quando quiser, se sinta sozinha e fique cansada da própria vida se for isso que estiver preenchendo seu coração e mente no momento. Só não fique presa aí. Atravesse. Atravesse o dia ruim, atravesse a solidão, atravesse a sensação de fracasso ou qualquer outra coisa que venha a sua mente.
Acredite, viver dias assim é o que constrói a tão abstrata estrada do autoconhecimento e aquele rolê que falei logo no início de “ser sua própria companhia”.
Porque depois que passa, você pensa um importante “opa, olha só que bobeira” e segue sua vida se sentindo a pessoa mais forte e independente do mundo.
Vai por mim, atravesse essa bagaça.
Terceira Dica:
Faça uma forcinha e preencha seus dias com outras coisas. Quando se vive como um produto do patriarcado, não é mesmo fácil tirar a cabeça da preocupação com a solteirice, como se fosse o maior atestado de fracasso humano possível. Eu sei.
Mas a gente pode fazer um esforcinho. Novos hábitos, novas formas de encarar a vida, novos pensamentos não aparecem do nada. É um esforço diário, um disciplina que se faz de pouquinho em pouquinho. Então, a minha dica é: nos dias bons, quando ficar chorando pelos cantos não for tão atrativo, bata um papo sério com você mesma e se obrigue a preencher seus dias com outras coisas que não sejam pensar em macho.
Vamos ler um livro, gata?
E Assistir uma comédia romântica besta que um ex ou futuro namorado jamais assistiria com você? Vamos?
Que tal sair para passear sem rumo?
Ou ir no seu restaurante favorito?
Quarta dica:
Eu sei que vai parecer que eu estou me contradizendo em relação à dica anterior, mas já passou da hora da gente aprender a fazer nada.
Sabe aquele sábado de tarde de tédio, sem programação na rua, que você fica quicando em casa se sentindo a única pessoa que não tem o que fazer? Pois bem. Assuma seu rolê: você não tem nada para fazer. Awesome, wow.
Nesses dias, deite no sofá e encare o teto. Deixe a cabeça divagar, deixe os pensamentos de fracasso virem e converse com eles. O que você anda sentindo por aí? Qual a forma que você narra sua história e, se você estivesse ouvindo tudo isso de uma amiga, que outras formas de pensar essa situação você diria para ela?
Acho que um dos grandes aprendizados da solteirice é saber viver esse momentos de nada. De tédio. De solidão. Mais uma vez te convoco: atravesse os dias de tédio. Muito provavelmente, se uma nova relação aparecer, depois de ver que não tem nada de tão terrível num dia de tédio, você não vai mais precisar girar sua vida em torno do novo macho porque já sabe que uns dias olhando pro teto não matam ninguém. Vai simplesmente deixar a criatura viver o dia dele lá, passar o fim de semana trabalhando ou escrevendo a monografia do curso de qualquer coisa, e vai cuidar da sua vida. Olha só que maravilha!
De quebra, você aprende a fazer isso em relação à família e amigos e, quando achou que estava pegando um coelho com uma cajada só, você pega vários. Iupi!
Quinta dica:
Eu ando descontruindo por aqui a ideia de que tenho que estar pronta - ganhando X, com emprego Y e blablablá - para entrar num relacionamento. Basicamente porque isso só reforça a ideia de que estar em relacionamento é uma conquista, um prêmio para quem é bom ser humano. Não é.
Relacionamentos são um desafio também, assim como a solteirice e a encheção de saco que é fazer tudo sozinha.
Então, para finalizar essa nossa conversa sincerona aqui que eu deveria estar escrevendo na Fim de Expediente de amanhã e que é exclusiva para assinantes pagos (ou seja, valorize minha generosidade nessa quarta-feira. obrigada, de nada), meu conselho é: olhe seu passado, analise os relacionamentos longos ou não em que você se meteu.
Que tipo de coisa você viveu que foi além da sua capacidade?
Que tipo de siuação idiota você tolerou e aprendeu que não compensa?
Esqueça os sonhos de “homem alto, depilado e que se veste bem” e pense nas coisas realmente importantes que um relacionamento precisa ter para valer o esforço de sair da zona de conforto que é a solteirice - fazer absolutamente tudo que dá na telha é um benefício subestimado, mores.
No meu caso, para eu me meter num relacionamento novamente, eu preciso que o cara que esteja comigo não me coloque numa caixinha de “blogueira bonitinha” e saiba lidar com minhas inseguranças infantis, meu péssimo hábito de autodepreciação e minha capacidade de questionar suas atitudes. Sim, eu não ficarei calada e confrontarei suas decisões e eu preciso que esse cara saiba dialogar sobre isso sem achar que eu estou atacando sua existência.
Entende como isso é bem mais importante do que ficar atrás de macho bonito?
Pois bem, faça seu dever de casa e use a solteirice para conhecer suas próprias necessidades, sem pedir desculpas a ninguém por isso.
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Dito isso, me despeço na torcida de que você consiga olhar para sua vida de solteira como um momento importante e não apenas um hiato entre relacionamentos. Como disse lá no começo, eu entendo que é difícil mudar, mas vai por mim, vale à pena.
Beijos de ex-viciada em relacionamentos,
Marttinha.
eu vou guardar esse texto para todos os momentos que me sentir insegura comigo mesma! ❤️