Esse finalmente de semana estava assistindo um filme muitíssimo fofo na Netflix - “Love at first sight” ou, em bom português, Amor à primeira Vista. Filme recente, lançado em 2023 e que prometia ser só mais uma comédia romântica e que se revelou um lindo filme sobre coragem e escolhas.
Em determinado momento do filme, a protagonista fala para seu pai: desculpe por ter saído no meio do seu casamento para ir atrás desse homem que eu conheci no avião. Parecia certo na hora, mas agora me sinto uma idiota por ter feito isso”.
O pai lhe respondeu: idiota? por quê? Me parece apenas que você foi corajosa.
Eu fiquei com esse momento filme na cabeça. Fez tanto sentido para mim que sigo pensando nele, aliás, horas depois, enquanto inicio mais uma segunda-feira.
É que, durante boa parte do meu processo terapêutico, eu tive que fazer as pazes com uma parte de mim que era medrosa demais para viver. Durante anos, conforme repassava minha história na sala de terapia, eu deixei de sentir - ou tentei silenciar meus sentimentos. Deixei de impor limites importantes na tentativa de evitar perder a presença de algumas pessoas, deixei de viver com medo de me decepcionar, me frustrar ou simplesmente descobrir que meus planos não dariam certo. Percebi que cheguei a um ponto tão intenso de medo que até das alegrias eu me privava pelo receio de que elas fossem apenas uma miragem.
Foi um processo difícil me perceber tão medrosa, tão humana, tão falível. Mas depois de algumas muitas sessões e muito choro e sentimentos difíceis que foram de arrependimento à vergonha, eu fiz as pazes com quem eu soube ser nos anos anteriores, embora tenha me prometido que jamais me deixaria de lado novamente apenas por medo de viver a minha vida em sua completude.
Foi quando toda essa paz alcançada com muito esforço desapareceu magicamente.
Escapou da minha mão enquanto eu tinha uma crise de ansiedade, conviccta de que havia dito demais, sentido demais, deixado frouxas as rédeas com que, com teimosia, tento controlar minha vida.
No meio de uma crise de ansiedade, me senti a adolescente que eu achei que havia deixado para trás depois da terapia, a que estraga momentos felizes enquanto antecipa cenários, falas e sentimentos. Era como se eu sentisse, no tremor das minhas mãos e no ritmo acelerado da respiração, que eu tivesse estragado o que estava bom, mudado o curso daquilo que deveria ser e que agora não poderia ser mais.
“Eu e essa mania de ser muito fora de hora”, era a única frase que conseguia identificar no meio da confusão de pensamentos sem início, meio ou fim que rodavam acelerdamente na minha cabeça.
Mas aí, passados alguns minutos sentada na escada de emergência, pedi gentilmente que minha eu-adulta tomasse a frente no processo. Um exercício que aprendi na terapia e que me dá acolhimento e descanso em momentos como esse. Uma voz interna que é mais segura, sentata e corajosa e que naquele momento, pedi que soasse mais alto do que a voz da ansiedade.
Pedi que ela (a Marta adulta) me guiasse diante do medo da inadequação, que acalmasse a minha criança que agia como se ainda tivesse 7 anos de idade, acordando assustada no meio da noite depois de um pesadelo. Eu não sou mais aquela Marta e não, não estava vivendo um pesadelo - não precisava sentir medo ou pavor. Ali, minutos antes, eu entrava em contato profundo e sincero com a minha vida, com todas as incertezas e surpresas que ela é capaz de abarcar. Com sua natureza incerta e errante, sim, mas também bonita e verdadeira. Com os sentimentos genuínos e puros, que atravessaram minha boca e ganharam o mundo sem que eu planejasse, e também os sentimentos de vergonha e medo que por alguns instantes são capazes de me tirar do eixo.
E assim, aos poucos, voltei ao eixo com meu próprio mérito e esforço de ser inteira e não pedaços antigos de pensamentos medrosos e infantis. Deitei na cama certa de que a mim me basta ser eu e enfim peguei no sono.
No dia seguinte, deitada no sofá enquanto tomava meu café e assistia o mencionado filme, pude confirmar o meu retorno a mim mesma e ouvir com o coração as palavras que um pai falava para sua filha: isso é apenas coragem, não se sinta mal.
Na tela da tv, apenas uma cena de ficção.
No sofá da sala, a minha realidade sendo abraçada e celebrada.
Não, eu não sou mais aquela mesma adolescente de antes, tampouco a criança assustada no meio da noite. Não fiz nem disse nada antes da hora simplesmente porque ali, aquelas palavras e ações, foram exatamente o que eu queria fazer. No meu tempo, na minha hora, no meu mundo de significados e vontades, da forma como meu corpo e mente souberam agir diante do transbordamento.
É apenas esse o contexto necessário para me encontrar e viver de verdade a minha própria vida: eu.
O único ritmo de vida que existe para mim é o meu - pelo menos, o único que me importa. E com isso em mente, volto a respirar em paz, finalmente. Inspirando e expirando minha verdades e sendo fiel a quem eu sou e consigo ser.
Isso é (auto) amor.
O grande momento em que enfrentamos e aceitamos quem somos e vimos como podemos ser tão incríveis e corajosas em um mundo cheio de “tempo certo” pra tudo. Faça o seu tempo e seja você. Isso é raro e especial ♥️ E obrigada por me lembrar disso. 💫
Taaanta identificação que chega ecoa!! Texto Salvo✔️👏